Doses maiores

16 de maio de 2018

A sangrenta não-violência de Gandhi

O verdadeiro objetivo da nossa luta é o de matar o monstro do preconceito racial no coração do governo e dos brancos do lugar (...). Há apenas uma maneira de matar o monstro e é oferecendo-nos em sacrifício. Não há vida senão através da morte. Só a morte pode levantar-nos. É o único meio eficaz de persuasão. É um selo que deixa uma marca permanente.

Essas palavras são de Mohandas Gandhi e estão no livro “A Não Violência – Uma história fora do mito”, de Domenico Losurdo.

Com base nelas, os militantes da luta pela libertação colonial da Índia recebiam uma ordem precisa ao enfrentar qualquer repressão policial: “Vocês não devem levantar uma mão sequer para proteger-se dos golpes”. De fato, eles sentavam-se no chão e apanhavam até perder a consciência, sem esboçar a menor resistência.

Havia casos em que mulheres erguiam suas crianças para fazer com que levassem pancadas na cabeça desferidas pelas forças policiais. Impassíveis, entregavam seus filhos em sacrifício pela causa.

Tais “sacrifícios” causavam enorme indignação moral em favor de suas vítimas. Por isso, Gandhi os utilizava sem o menor constrangimento: “Para conseguir a liberdade tenho que oferecer um milhão de vidas. Estou disposto a esse sacrifício sem o mínimo remorso”. A não-violência não é para covardes, dizia.

Mas, para Losurdo, a não-violência revela-se conspurcada “por uma violência que acaba atingindo, ou entregando aos golpes que se preveem ou que são desferidos, vítimas inocentes, inconscientes e indefesas.”

Ou seja, meios não violentos são incapazes de evitar a violência. Por isso, é preciso avançar no debate sobre a resistência popular à repressão estatal e fascista.

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