Doses maiores

17 de janeiro de 2020

De supercooperadores a supergoístas

Martin Nowak é professor de biologia e matemática na Universidade de Harvard. Em seu livro “Supercooperators” ele defende a hipótese de que nosso maior traço evolutivo é a cooperação e não a competividade. Um trecho:

Para a maioria de nós, quase parece um reflexo que não requer nenhuma tomada de decisão consciente: se vemos alguém em perigo, ficamos ansiosos e imediatamente queremos ajudar. Esse instinto pode ser tão forte que há pessoas que sacrificam sua própria vida para salvar a de outros. Todos temos esse instinto, mesmo que nem todos o sigamos. De alguma forma, a empatia pelo grupo manipula os indivíduos, sobrecarregando seu senso de interesse próprio, para que eles ajam em nome do bem maior.

Esse comportamento incomodou o próprio Darwin, diz Nowak. Tanto que em seu livro “A Origem do Homem”, de 1871, ele escreveu:

Não há dúvida de que uma tribo que inclui muitos membros (...) sempre prontos a ajudar um ao outro e a se sacrificar pelo bem comum, venceria a maioria das outras tribos; e isso seria seleção natural.

Segundo Nowak, o primeiro a explorar esse “insight” de Darwin foi o zoólogo e ecologista britânico Vero Wynne-Edwards. Em 1962, ele publicou “Animal Dispersion in Relation to Social Behavior”, no qual sugere que os animais não estão, como Darwin supunha, sempre tentando aumentar seu número, mas são programados para regulá-los de modo a alcançarem um bem maior.

Desde então, a importância da cooperação tem sido verificada em muitas outras espécies também. O problema é que entre nós o “bem comum” vem sendo soterrado pela hipercompetividade capitalista. Somos cada vez mais superegoístas.

Leia também: Entre o comunismo e os chimpanzés

Nenhum comentário:

Postar um comentário