Doses maiores

7 de janeiro de 2020

A Comuna dos Cabanos

Há 185 anos, começava a Cabanagem. Trata-se da maior revolta popular da história nacional e, por isso mesmo, aquela que foi reprimida da maneira mais sangrenta.

Tudo começou com uma aparente convergência de interesses entre parcelas da elite da enorme província do Grão-Pará e suas camadas populares. O contexto era o racha que ocorreu na monarquia portuguesa em 1822, envolvendo o que costumamos chamar de Independência Nacional.

Muitos dos poderosos de Belém não aceitavam a centralização do poder imperial nas cortes do Rio de Janeiro. Em meio a esse conflito, os cabanos alinharam-se aos que defendiam maior autonomia local em troca de ver atendidas suas reivindicações por melhores condições de vida.

Os cabanos eram assim chamados em referência a suas precárias habitações. Eram caboclos, indígenas, negros. Libertos ou escravizados. Muito pobres, terrivelmente explorados.

Vitoriosa a rebelião, um latifundiário assumiu o governo. Não demorou muito para que as exigências dos cabanos fossem esquecidas. Diante disso, os líderes populares tomaram o poder.

Imediatamente, as elites locais e fluminenses resolveram suas divergências para promover um grande massacre. O poder cabano resistiu durante dez meses, até que navios vindos do Rio passaram a bombardear Belém impiedosamente.

Seguiram-se cinco anos de perseguições pelas matas do Pará. Na época, viviam cerca de 100 mil habitantes na região. Deste total, 30% a 40% teriam sido mortos. A imensa maioria, indígenas, negros, caboclos. Tribos inteiras foram exterminadas, como os Murá e os Mauê.

A Comuna de Paris ocorreria décadas depois, mas a Cabanagem já antecipava toda a covardia e estupidez de que são capazes as classes dominantes. 185 anos depois, pouca coisa mudou.

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2 comentários:

  1. Realmente temos pouco conhecimento das revoltas e rebeliões no Brasil. A Cabanagem é só mais uma delas. Sabemos que não interessa às elites, em nenhum momento, trazer à luz as lutas de revoltas dos movimentos populares. É muito comentado no campo da esquerda, contrapondo à visão de povo dócil, de que isso não é verdade, que temos um passado de lutas muito forte. Também acho que isso é verdade. E para mim isso é no mundo inteiro. O que não sei, e acho difícil comparar, é se no Brasil tivemos tantas lutas, e de grande magnitude, como em outros países, quer seja na América Latina, como na Europa, ou em outros continentes.

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    1. Também não saberia dizer, Marião! Mas o fato é que nossa história também é muito sangrenta.

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