Doses maiores

3 de agosto de 2022

As desculpas vazias do Papa aos indígenas

No final de julho, o Papa Francisco, em visita ao Canadá, pediu desculpas a representantes indígenas locais pela participação da Igreja Católica no processo de violência cultural e repressão física aos povos nativos, desde o início da invasão europeia das terras americanas até meados do século passado.

Os indígenas agradeceram a gentileza, mas responderam que o papa precisava incluir a revogação da “doutrina do descobrimento” no pedido de desculpas. Referiam-se a três bulas papais que concederam aos reis “permissões”, como o direito de conquistar as terras dos povos indígenas, impor-lhes o cristianismo e torná-los seus escavos.

Em maio de 2015, representantes de povos indígenas de várias partes do mundo promoveram “A Longa Marcha para Roma”. No Vaticano, reuniram-se com Francisco para exigir que ele revogasse essa doutrina.

Kenneth Deer, do povo Mohawk, estava presente e disse que “ele manteve contato visual e foi muito atencioso. Mas limitou-se a dizer: 'Vou orar por vocês'. Depois, me deu uma caixinha vermelha com um rosário dentro. E foi isso.”

E é desse modo que se comporta o Papa mais progressista da Igreja Católica em muitas décadas. Suas posturas individuais são muito melhores que as de vários de seus antecessores, mas isso quase não faz diferença em relação ao funcionamento da instituição que chefia ou deveria chefiar.

Outro exemplo é a discriminação contra os homossexuais. O Papa afirma que eles devem ser tratados como filhos de Deus, mas deixou aos padres decidirem sobre sua aceitação como verdadeiros católicos. O que não ajuda muito. Até porque mesmo os piores pecadores são filhos de Deus. Inclusive, os Papas.

Leia também: O amor e seu oposto, o Vaticano

2 comentários:

  1. Me parece que há duas questões centrais nessa "visita penitencial", além de pedir desculpas. Autorizar o acesso pos povos autóctones aos arquivos da Igreja (reivindicação central) e iniciar procedimentos de reparação. Se essas duas questões não forem enfrentadas, é apenas fumaça...

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    1. Tem razão, mas aí é que desse mato não sai coelho nem fumaça. Abraço

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