Doses maiores

15 de agosto de 2022

Escravocratas de alto a baixo

O Império Brasileiro foi, entre todos os governos da América Latina, o que mais deu apoio ao Sul escravista dos Estados Unidos durante a Guerra da Secessão. Contrariando o desejo do presidente Lincoln, para quem os confederados eram rebeldes a serem trazidos de volta ao seio da União pela força das armas, o Brasil concedeu à Confederação o status formal de nação beligerante, reconhecimento que poucos outros países concordaram em adotar. Nessa condição, navios sulistas foram acolhidos em portos brasileiros, onde receberam proteção contra eventuais hostilidades.

O trecho acima é do último volume da trilogia “Escravidão”, de Laurentino Gomes.

Mas os ianques nortistas não eram muito melhores. Lincoln, por exemplo, nomeou como diplomata no Brasil James Watson Webb, que afirmou o seguinte em uma carta:

É do interesse dos Estados Unidos e absolutamente necessário para sua tranquilidade interna que se livre da instituição da escravidão, mas também (...) se torna indispensável que o negro liberto seja exportado para fora de nossas fronteiras (...). A ausência [de negros] seria uma benção para os Estados Unidos, que se livrariam de uma maldição que quase os destruiu.

Enquanto isso, Matthew Fontaine Maury, comandante da Marinha sulista durante a guerra civil, defendia a ocupação da Amazônia brasileira por colonos norte-americanos e seus escravos. Para ele, somente assim a região seria habitada por um povo com a energia e a iniciativa necessárias para subjugar a floresta no lugar da raça imbecil e indolente que ocupava a Amazônia.

Tudo isso mostra como o racismo escravocrata imperava entre os brancos de sul a norte, no norte, e de norte a sul, no sul.

Leia também: Escravidão: os rugidos que fazem os senhores tremerem

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