Doses maiores

29 de agosto de 2022

1822: independência às custas da escravidão

A Revolução Pernambucana de 1817 foi o último movimento separatista do período colonial. Defendia as liberdades republicanas, mas seus líderes fizeram questão de divulgar um documento no qual garantiam aos grandes proprietários rurais: “Patriotas! Vossas propriedades serão sagradas”, referindo-se aos escravos.

No terceiro volume da trilogia “Escravidão”, Laurentino Gomes cita um trecho do documento conhecido como “Rascunho de dom Pedro sobre a escravidão, 1823”, escrito pelo responsável pela libertação do país do domínio português.

“Ninguém ignora que o cancro que rói o Brasil é a escravatura, é mister extingui-la”, dizia Pedro I. Segundo ele, a escravidão distorcia o caráter brasileiro porque tornou nossos “corações cruéis e inconstitucionais e amigos do despotismo”. Observava também que “todo senhor de escravo desde pequeno começa a olhar ao seu semelhante com desprezo”

Mas, afirma o autor:

...o Brasil estava de tal forma viciado e dependente da mão de obra escrava que, na prática, sua abolição na Independência revelou-se impraticável. Defendida em 1823 por José Bonifácio e pelo próprio dom Pedro, ela só viria 65 anos mais tarde, já no finalzinho do século.

O fato é que os lucros do negócio escravista eram astronômicos. Em 1810, diz Gomes, um escravo comprado em Luanda por 70 mil réis, era revendido em Minas Gerais, por até 240 mil réis, ou três vezes e meia o preço pago por ele na África. Em 1812, metade dos trinta maiores comerciantes do Rio de Janeiro eram traficantes de escravos.

É assim que a emancipação em relação ao jugo português só valeu para uma pequena minoria branca, às custas, principalmente, da manutenção do trabalho escravo.

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