Doses maiores

5 de junho de 2014

A Copa, o pardal e o ovo da serpente

“Ovo da serpente” é uma expressão que costuma ser usada para simbolizar o lento processo de gestação do mal. Ficou famosa como título de um filme de Ingmar Bergman, lançado em 1977. A obra mostra os tempos confusos e contraditórios que levaram à ascensão do nazismo na Alemanha.

A expressão também é usada no filme “Ran”, que Akira Kurosawa lançou em 1985. Um de seus personagens diz o seguinte:

O ovo da serpente é branco e belo. O ovo do pardal, cinza e feio. O pardal chocou o ovo branco. Do ovo saiu a serpente e comeu o pássaro.

O mundo definitivamente vive tempos confusos e contraditórios. É isso é ainda mais verdadeiro para o Brasil. Por isso, fica difícil afirmar com certeza quem é que pode estar chocando um ovo de serpente. Os apoiadores do governo dizem que são seus opositores, inclusive os de esquerda. Estes garantem que a chocadeira está sob cuidados do governo.

Mas há números que ajudam a esclarecer as coisas. Eles estão em um levantamento da ONG “Artigo 19”, que se dedica a defender a liberdade de expressão. Em números redondos, houve 700 protestos ao longo de 2013. Durante sua realização, foram feitas 2.600 prisões e houve 900 feridos, incluindo 100 jornalistas. A polícia matou 8 manifestantes.

A máquina militar responsável por estes números não apenas continua funcionando impunemente. Ela foi reforçada e ganhou ainda mais liberdade de ação para proteger a realização da Copa do Mundo. É um ovo que não tem nada de belo, mas certamente abriga bichos peçonhentos. Apesar disso, o pardal continua a chocá-lo.

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