Doses maiores

23 de janeiro de 2017

1917: o ano que não terminou

Em 31/12, Adriana Carranca citou em sua coluna do Globo o livro “A quarta revolução: a corrida global para reinventar o Estado”, de John Micklethwait e Adrian Wooldridge.

Segundo a colunista, a obra mostraria “como a desilusão com os governos ocidentais se tornou endêmica e põe em risco o modelo de Estado como conhecemos, com o centro da gravidade — e de poder — mudando rapidamente”.

Neste cenário, Wooldridge enxergaria semelhanças entre a situação “que levou ao colapso da ordem liberal em 1917 e hoje”. “Nada mal para as celebrações dos cem anos da Revolução Russa e da chegada de Lênin ao poder”, diz a colunista.

Mas segundo Adriana, Wooldridge destaca uma importante diferença. Hoje, afirma ele, “os primeiros tiros estão sendo disparados pela direita e não pela esquerda, pelos Brexiteers no Reino Unido e Donald Trump nos EUA.”

Pode ser. É preciso lembrar, porém, que nas primeiras décadas do século passado uma revolução socialista na Rússia estava fora de qualquer radar da esquerda mundial.

Como acreditar que um levante anticapitalista seria vitorioso num país dominado pela economia camponesa e preso às trevas de uma ditadura monárquica? Somente os bolcheviques enxergaram no desigual desenvolvimento econômico russo a oportunidade para tomar o poder.

Combinações históricas como essa são muito raras. Mas não faltam contradições de alto potencial explosivo num mundo dilacerado por desequilíbrios cada vez mais descomunais: enorme concentração de riqueza, desastres ambientais, violência urbana, guerras permanentes, entre outros.

Ou seja, os conflitos que abalaram o mundo há 100 anos se tornaram ainda mais agudos e decisivos. 1917 não acabou porque não acabamos com o capitalismo.

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