Doses maiores

27 de janeiro de 2017

Um pouco de auto-ajuda para a esquerda

“Por que diabos as pessoas apoiam a direita?”, pergunta o jornalista mexicano Alberto Rodriguez em texto publicado pelo portal IHU-Online, em 21/10.

Rodriguez encontrou uma possível resposta ao conversar com Gernot Ernst, um neurobiólogo e cientista social norueguês que é consultor científico do Partido da Esquerda Socialista de seu país. Contra a direita, diz ele:

A esquerda argumenta. Mas nos esquecemos da organização. E para a organização precisamos de mais tempo. Perdemos os trabalhadores onde não temos sindicatos, e com certeza, nesses lugares, devem haver companheiros que sofrem e lutam. Essa é a nossa força. Quando estarmos ajudando em pequenas coisas, eles irão escutar, irão recordar o que é o mais importante e irão lutar também.

Ernst também dá algumas sugestões que Rodriguez chama de "Dicas do Dr. Gernot Ernst para evitar que as pessoas apoiem a direita, e que, sim, apoiem a esquerda":

Exemplifique para as pessoas normais. Explique os problemas e argumente com base nas experiências de pessoas comuns, com os quais o público se sente identificado.

Menos discurso, mais perguntas. Evite impor suas ideias. Pergunte, para que as pessoas descubram a verdade por si mesmas.

Utilize exemplos históricos. As pessoas não têm consciência histórica. Recorde-os o que aconteceu no passado, para que não cometam os mesmos erros, e recordem os velhos êxitos.

A direita manipula, a esquerda organiza. É válido você utilizar alguns dos métodos da direita, tais como o uso de imagens e definições. Mas não se esqueça do mais importante: a organização social é a chave.

Sim, parece receita de auto-ajuda. Mas é bem melhor que nossas fórmulas de auto-destruição.

Leia também: Por uma obscenidade de esquerda

4 comentários:

  1. O título me atraiu muito, pensei: até que enfim encontramos algo mais simplificado para resolvermos nossos problemas com as massas. Achei também muita graça, mas acho que não concordo muito com a fórmula. Mas, vamos continuar tentando. Lembrei do Bolero de Ravel, ele compôs porque queria uma música clássica que pudesse ser simples para o cidadão não acostumado às diabruras dos clássicos, algo que pudesse ser assoviada e cantarolada. Acho que a esquerda precisa do seu Bolero de Ravel. Lembrei de outra (hoje estou de morte), acho que foi o Gorki que propôs que deveríamos fundar o comunismo como religião para ficar mais próximo do cidadão comum. Essa não é um bom bolero. Abraço, Serginho. Saudades.

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    1. Tudo bem, Marião, que precisamos de um bolero de Ravel, concordo. Mas o que disse o Gorki me parece ser exatamente o contrário disso. É quando falamos mais do que ouvimos, despejamos fórmulas na cabeça das pessoas e desprezamos as dúvidas e incertezas dos “normais” que agimos como uma religião. Isso, na melhor das hipóteses. Na pior, não passamos de seita.
      Abraço

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  2. Inquietante o texto e muito desafiador. Há muito ação não fundamentada. Há tempos que IHU-online fala sobre essa temática. É talvez há que pausar e refletir.
    É impressionante sentir como o campo da esquerda, tornou-se hábil em repelir a diferença.

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