Doses maiores

4 de janeiro de 2017

Revolução não é bolão (continuação)

No artigo ”How Will Capitalism End?” Wolfgang Streeck resume os argumentos de um livro lançado por ele, recentemente.

Comecemos citando o trecho em que o autor afirma ser necessário “voltar a pensar no capitalismo como um fenômeno histórico que não tem apenas um começo, mas também um fim”.

Difícil discordar. Se até o Sol tem prazo para acabar, por que não uma criação humana que, ainda por cima, acarreta frequentes e desastrosas consequências.

O autor cita Geoffrey Hodgson, para quem “o capitalismo só pode sobreviver enquanto não for completamente capitalista”. Ou seja, quanto menos obstáculos se apresentarem no caminho do sistema, mais veloz seria sua corrida rumo ao abismo. Ou nas palavras do próprio Streeck: “É como se o capitalismo estivesse morrendo de uma overdose de si mesmo”.

Em Marx, hipótese semelhante está implícita na teoria da queda tendencial da taxa de lucro. Mas trata-se apenas de uma tendência, que pode ser evitada de várias maneiras. Ainda que todas causem mais destruição social e ambiental.

Os problemas surgem quando Streeck sugere que aprendamos a pensar que o fim do capitalismo chegará, sem que precisemos responder à “questão do que deve ser colocado em seu lugar”.

Uma conclusão frontalmente oposta ao que defende o marxismo, segundo o qual, exatamente por ser o capitalismo um produto humano, é nossa obrigação histórica construir uma alternativa a ele.

Mas Streeck não pretende facilitar as coisas. Segundo ele, “o capitalismo desorganizado está desorganizando não só a si mesmo, mas também sua oposição, privando-a da capacidade de derrotá-lo ou resgatá-lo”.

Falta muita dialética nisso aí. Mas fica para uma próxima pílula.

Leia também: Revolução não é bolão

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