Doses maiores

20 de março de 2019

Os antigos e os novíssimos monopólios da verdade

Pawel Kuczynski
Os primeiros aparelhos de rádio serviam tanto para recepção como para emissão. Uma troca que ficava fora do alcance da indústria e dos governos.

As estações de rádio permitiram opor alguns emissores a milhões de receptores. Um monólogo que, geralmente, trata somente do que interessa ao mercado e ao poder.

A TV já surgiu sob a lógica do monólogo. Não à toa, nos países economicamente dependentes as redes de difusão audiovisual foram priorizadas em relação à estrutura telefônica.

No início do século 21, surge a maior empresa de mídia da história. O sucesso do Facebook se deveu muito à restauração dos contatos interpessoais. Ainda que virtuais.

Décadas de neoliberalismo criaram o ambiente ideológico perfeito para a volta do diálogo sem risco para os poderes estabelecidos. Ao contrário, tinha tudo para os favorecer.

Associações, clubes, sindicatos, partidos esvaziados. A família reduzida a, no máximo, quatro ou cinco membros. Os apartamentos no lugar de aldeias, vilas, paróquias.

O individualismo no lugar da solidariedade, a competição ao invés da colaboração. Empreendedorismo, sim, consciência de classe, jamais.

Cenário perfeito para que os diálogos se limitassem ao nível virtual. Inclusive, da sala para o quarto.

Evidentemente, a maior empresa de mídia já formada também é o maior anunciante. O Facebook monetizou os contatos entre as pessoas, alavancando bilhões de dólares por hora.

Enquanto isso, o Google monetizou radicalmente a informação. Vale como fato objetivo aquele que recebe mais cliques.

Esta é basicamente a economia política que opõe os interesses de antigos e novíssimos monopólios da verdade. Nosso grande desafio é saber explorar as contradições dessa briga. Estaremos à altura da tarefa?

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