Doses maiores

14 de março de 2019

Facebook, partidos digitais, “tecnopólio”

Vivemos sob uma espécie de “tecnopólio”, diz Siva Vaidhyanathan no livro “Mídia antissocial: como o Facebook nos desconecta e enfraquece a democracia”.

Para explicar, ele cita o teórico da comunicação estadunidense, Neil Postman:

O tecnopólio é um estado de cultura. Também é um estado de espírito. Consiste no endeusamento da tecnologia, o que significa que a cultura busca sua aprovação na tecnologia, encontra suas satisfações na tecnologia e recebe ordens da tecnologia.

Sob seu império, diz Vaidhyanathan:

A aprendizagem torna-se uma questão de pesquisar, copiar e colar em vez de imergir, considerar e deliberar. Todos são quantificados. Todos estão expostos. Todos estão em guarda. Todos exaustos.

O tecnopólio surgiu sorrateiro no alvorecer do século 20, diz ele. Em 1992, uma canção de Bruce Springsteen descreveu seu poder sem explicitá-lo: "Cinquenta e sete canais e nada". “Hoje, perdemos a conta de quantos canais são”, afirma.

Apesar disso, Vaidhyanathan afirma que não pretende sair do Facebook. “O longo e lento processo de mudar mentes, culturas e ideologias nunca produz resultados em curto prazo”, diz.

Para ele:

...a resposta mais frutífera aos problemas que o Facebook cria, revela ou amplifica seria reinvestir e fortalecer instituições que geram conhecimento profundo e significativo.

Seria possível concordar com o autor se gerar conhecimento profundo e significativo em uma sociedade movida pela busca do lucro acima de tudo não fosse cada vez mais inviável.

É o que mostra, por exemplo, o surgimento dos chamados partidos digitais, cujo funcionamento fortemente condicionado pela tecnologia parece potencializar a democracia, mas pode derrotá-la definitivamente.

Tecnopólio, enfim, é só outra forma de monopólio do poder. Poder de classe.

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