Doses maiores

21 de março de 2019

Facebook: quando o oco domina o mundo

O Facebook é uma concha vazia, um recipiente que adquire significado apenas por meio do conteúdo gerado pelo usuário que é produzido por indivíduos interagindo nele.

Mas também funciona como um "aparente paradoxo", em que um "mecanismo estrito e invariável (ditadura de meios) oferece uma heterogeneidade de usos autodirigidos (liberdade de fins)".

As palavras acima estão em “The stack: on software and sovereignty”, de Benjamin Bratton. A obra é citada no livro “The Digital Party”, de Paolo Gerbaudo, ambos sem tradução.

A análise ajuda a entender a lógica do Facebook. Por trás de maravilhas como compartilhamento, descentralização e livre fluxo de informações, um mecanismo que direciona fortemente a vida de bilhões pelo planeta.

Segundo Gerbaudo, esse mecanismo “tem importantes implicações para o exercício do poder em termos da centralização que facilita e das distorções inerentes às regras e protocolos da plataforma”.

Resumindo, a adesão é voluntária e a participação é livre, mas ambas limitadas e orientadas por algoritmos que são definidos por uma minoria e seus valores. Uma centralização tão sutil, quanto poderosa.

O fato é que produtos como o Facebook resultam da mentalidade típica do Vale do Silício. Liberal em relação a costumes, mas fanática quanto aos imperativos do mercado.

E são tais imperativos que transformaram a “concha vazia” do Facebook numa das mais adequadas caixas de ressonância dos valores conservadores que vêm sendo impostos pelo neoliberalismo há décadas.

Trump e Bolsonaro no poder são símbolos perfeitos do sucesso dessa lógica. Se não pode ser considerada o único fator determinante para a vitória deles, ela mostra que cascas vazias também podem funcionar de forma colaborativa.

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