Doses maiores

19 de julho de 2019

Inflação, deflação, ficção científica e marxismo

O título acima parece uma mistura meio delirante? Vejamos.

Em 2009, Mark Bould e China Miéville publicaram a interessante coletânea “Planetas Vermelhos: Marxismo e Ficção Científica”, ainda sem tradução do inglês.

No artigo “A singularidade está aqui”, Steven Shaviro compara “os dois lados do marxismo” com os gêneros literários ficção científica e romance policial.

Segundo Shaviro:

A oposição entre a perspectiva deflacionária do romance policial e a perspectiva inflacionária da ficção científica evoca uma tensão dialética no coração do marxismo, que é tanto inflacionária como deflacionária. A dimensão deflacionária é representada pela tentativa de destruir todas as ilusões necessárias ou úteis à preservação da sociedade de classes em geral e do capitalismo em particular.

Mas, diz Shaviro, o “marxismo também é inflacionário, insistindo que, apesar de admitir que a opressão de classe seja essencialmente coincidente com a história da raça humana, nem sempre precisa ser assim”.

Esse caráter expansivo do marxismo, afirma, decorreria de sua “recusa radical” em aceitar como inevitável a sociedade capitalista ou as sociedades de classes em geral.

Para ele, “se o lado deflacionário do marxismo é necessariamente moral e político, o lado inflacionário é necessariamente científico”. Ou seja, busca descobrir as leis históricas que permitiriam levar à emancipação humana.

Assim, poderíamos dizer que seria inflacionário tudo o que expande os horizontes da humanidade para o conjunto de seus membros, de forma igualitária e respeitada toda a sua diversidade.

Deflacionário, então, seria tudo o que encolhe nossas potencialidades. Por exemplo, aceitar que as sociedades humanas estão condenadas a se dividir entre explorados e exploradores.

E agora, será que o delírio faz algum sentido?

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