Doses maiores

26 de julho de 2019

Um mar digital de estupidez

“Tecnologia, Ignorância e Violência” é um artigo de Pablo Rubén Mariconda, publicado pelo portal Outras Palavras. Seu tema principal é o caráter destrutivo da ambição humana pelo mais completo domínio da natureza.

O texto vale ser lido na íntegra, mas há um interessante trecho sobre o papel da ignorância nos tempos atuais.

Segundo Mariconda, “a todo conjunto de conhecimentos práticos e teóricos corresponde um conjunto, de certo modo, complementar de não conhecimentos práticos e teóricos”.

Um serralheiro, por exemplo, pode fabricar as dobradiças e a maçaneta de uma porta, mas irá recomendar a seu cliente que contrate um marceneiro para instalá-las. Ele sabe o que sabe, mas também sabe o que não sabe.

Mas, diz o autor, “quando não reconheço não saber algo, quando desconheço certa ignorância, ou mesmo quando minto saber”, há uma “diminuição drástica da atenção sensitiva e oral – a ponto de ampliar espantosamente a esfera da ignorância não mais reconhecida como tal, ou seja, a ignorância ignorada, que é também uma forma de embrutecimento racional”.

Embrutecimento racional? Sim, Mariconda está se referindo aos estragos causados pelas redes virtuais. Ao mundo da troca rápida e irrefletida de informação, acarretando alterações significativas de nossa percepção do mundo. Por exemplo, diz ele:

...dificuldade na determinação da autoria das informações ou notícias, ou seja, aparente anonimato do que se comunica; deslocamento emocional produzido pela mediação imagética da informação; transferência da memória; diminuição drástica da atenção sensitiva e oral.

Ele também cita o filósofo Herbert Spencer, para quem o conhecimento científico seria “como uma esfera que cresce mergulhada em um oceano de ignorância”.

Melhor vestirmos os coletes salva-vidas.

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