Doses maiores

10 de julho de 2019

Pequena divagação florestal

“É preciso enxergar a floresta e não apenas suas árvores”, dizem.

Sem dúvida. Mas, que floresta cerca, por exemplo, a árvore representada pela eleição de Bolsonaro em 2018? Ela compreende somente as fake news, o apoio das igrejas neopentecostais, o papel da grande mídia, a famigerada “facada”, a Operação Lava-Jato?

Certamente. Mas essa cartografia florestal pode deixar de fora as Jornadas de 2013? Momento que sinalizou o fracasso de um projeto político que equivocadamente contava com a concordância das classes dominantes para promover alguma justiça social no País?

Por outro lado, seria o malogro da aposta petista suficiente para definir os limites florestais que nos interessam? Ou grande parte de suas raízes não estariam na crise de 2008, quando começou a grande depressão em que caiu a economia mundial desde então?

Além disso, por toda a extensão dessa paisagem arbórea ouve-se um persistente ruído ao fundo. Ele é causado pela permanente demolição neoliberal do direito ao trabalho digno, desde os anos 1980, pelo mundo todo.

O fato é que floresta e árvores formam um todo contraditório que só pode ser compreendido de forma coerente em sua unidade dialética. Olhar apenas a floresta sem atentar para os elementos que a compõem também pode ser muito limitador.

Aparentemente, foi isso o que aconteceu no último período. O que julgávamos ser a floresta era apenas um de seus bosques. E o que pensávamos serem pequenas clareiras, já eram terra arrasada. Além disso, não percebemos que uma floresta é formada por muito mais que apenas suas árvores.

De qualquer maneira, precisamos reagir logo. As motosserras se aproximam rapidamente.

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