Doses maiores

12 de julho de 2019

Cuidado com o antifascismo oportunista

Christophe Guilluy é um geógrafo francês que enxerga em várias sociedades pelo planeta uma separação entre “os que estão integrados na economia globalizada e os que não, entre os que gozam de referências culturais de prestígio e os que não”.

Em entrevista publicada pelo portal Letras Libres, em 08/07/2019, ele discorre sobre esse tema, denunciando que alguns setores importantes da esquerda mundial abandonaram a centralidade dos conflitos de classe em favor de um identitarismo liberal.

Mas diante da onda conservadora que se espalha mundo afora, Guilluy também alerta para o risco de um antifascismo conveniente aos interesses dos poderosos:  

É assombroso ver que os intelectuais e as classes dominantes, por um lado, se esqueceram da classe trabalhadora e, por outro, utilizaram as minorias para se proteger. Eles as exploram e, por sua vez, a nova burguesia utilizou a arma do antifascismo para desestimular qualquer reivindicação social.

Referindo-se ao movimento dos coletes amarelos, que toma as ruas de Paris e de outras cidades francesas desde novembro de 2018, ele diz:

Quando surgiram, em seguia, dizia-se: são fascistas, são antissemitas... Era uma técnica retórica que permite deslegitimar qualquer reivindicação total, permite fazer com que a burguesia se proteja. Por isso, digo que, na atualidade, o antifascismo não é um combate contra o fascismo, mas, ao contrário, uma retórica que é uma arma de classe para se proteger das reivindicações sociais da classe trabalhadora.

Talvez, as conclusões de Guilluy se adequem melhor à situação europeia, mas é importante atentar para a possibilidade do surgimento desse antifascismo burguês entre nós. Se é que ele já não está por aí.

Leia também: Pra brigar, tem que entrar na arena

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