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1 de outubro de 2019

Violência na história: a parteira e o carrasco

Para Walter Scheidel, a violência seria a grande responsável pelos raros períodos de diminuição da desigualdade social na história humana. Esta é a tese central de seu livro “A Grande Niveladora: Violência e a história da desigualdade da Idade da Pedra ao século 21”, sem edição no Brasil.

Marx dizia que a violência é “a parteira da história”. A afirmação faz todo sentido desde que feitas algumas considerações.

Nascimentos podem ocorrer sem parteiras, mas são impossíveis sem a mãe. E nesse caso o papel cabe à espécie humana, destinada a parir sua própria história. Além disso, fazer história para Marx é deixar para trás a pré-história da exploração e opressão das grandes maiorias pelas minorias. É fazer a espécie se reconhecer como digna de si mesma.

A igualdade social a que Sheidel se refere manifestou-se, geralmente, como colapsos sociais que resultaram de acontecimentos que fugiram ao controle humano: guerras, doenças, barbárie política.

Somente na modernidade, a busca pela igualdade social ganhou caráter consciente e foi entendido como direito a ser estendido ao conjunto da espécie. E apenas no século 20, essa busca foi assumida pelos únicos setores capazes de cumprir essa tarefa: os explorados, responsáveis pela subsistência do conjunto da humanidade, e suas revoluções transformadoras.

A maioria das revoluções comunistas foram iniciadas quase sem violência. Foi a reação conservadora a elas que provocou banhos de sangue e pariu ditaduras políticas. Foram tentativas de elevar a existência humana acima do rio bárbaro da história das sociedades de classes, logo afogadas.

Infelizmente, a parteira da história continua sendo importante porque à beira do leito materno há um carrasco.

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