No livro “As três fontes e as três partes constitutivas do marxismo”, publicado em 1913, Lênin afirma que as fontes a que se refere o título são a filosofia alemã, a economia política inglesa e o socialismo francês.
Trata-se de uma definição eurocêntrica para dizer o mínimo. Incoerente com uma teoria que defende a emancipação da humanidade de um domínio que nasceu do colonialismo europeu, responsável por mergulhar povos inteiros em um mar de “lama e sangue”, nas palavras do próprio Marx.
A questão é que mesmo Lênin jamais se deixou orientar apenas pelas correntes intelectuais da Europa Central. Ao contrário, os bolcheviques basearam muito de sua atuação na militância dos populistas russos, enraizada no trabalho junto aos camponeses da Rússia czarista.
Além disso, Lênin procurou compreender as especificidades da sociedade russa em sua grande obra “O desenvolvimento do capitalismo na Rússia”. Escrito de 1896 a 1899, o estudo é um exemplo de como adequar a teoria revolucionária à realidade concreta de uma sociedade periférica.
Outras lideranças e teóricos marxistas procuraram fazer o mesmo em suas sociedades. É o caso de Gramsci, na Itália, Mariátegui, no Peru e Zavaleta Mercado, na Bolívia. Mas em relação aos efeitos práticos, certamente a abordagem leninista foi a mais bem-sucedida.
Na verdade, a própria Revolução Russa foi considerada uma heresia pelos marxistas ortodoxos dos países europeus industrializados. No ano em que se completam 100 anos de sua morte é importante lembrar que a principal fonte do marxismo de Lênin era o que ele definia como a “análise concreta da situação concreta”.
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