Nancy Fraser encerra seu livro “Capitalismo canibal”, mostrando a pandemia da Covid como um “ponto onde todas as contradições do capitalismo canibal convergiram: onde a canibalização da natureza e do trabalho de cuidado, da capacidade política e das populações periferizadas se fundiram em uma farra letal”.
Para começar, foram os efeitos combinados do aquecimento global e do desmatamento que colocaram o vírus em contato com os seres humanos. Depois, os efeitos da Covid foram agravados por nossos governantes, que a serviço do capital, haviam transferido funções vitais do atendimento na saúde a prestadores de serviços, convênios, farmacêuticas e fabricantes movidos pelo lucro.
Sem a retaguarda dos poderes públicos, o isolamento sanitário despejou novas e importantes tarefas de cuidado sobre famílias e comunidades, principalmente sobre as mulheres. Muitas delas acabaram pedindo demissão para cuidar dos filhos e de outros familiares, enquanto muitas outras foram demitidas.
Trabalhadores cujas funções eram essenciais continuaram ganhando uma ninharia e sendo tratados como descartáveis. Eram profissionais de saúde, trabalhadores de frigoríficos e abatedouros, funcionários de varejistas gigantes, profissionais de limpeza hospitalar, entregadores de refeições, repositores de mercadorias e caixas de supermercados. A maioria deles, mal pagos, precarizados, não sindicalizados, sem benefícios e proteções trabalhistas.
Em cada um desses casos, o racismo e o sexismo estruturais se manifestaram, infectando e matando desproporcionalmente mais não brancos e mulheres.
Desse modo trágico, diz Nancy, a Covid iluminou com um raio intenso todos os terrenos ocultos de nossa sociedade. Portanto, conclui ela, é hora de descobrir como deixar o monstro morrer de fome e acabar, de uma vez por todas, com o capitalismo canibal.
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