Em 1893, o compositor checo Anton Dvorák publicou um artigo no New York Herald. Recém chegado aos Estados Unidos, ele surpreendeu-se com a força da música negra naquele país.
O entusiasmo de Dvorák mostrou-se justificado. Os afro-americanos nunca passaram de 10% da população dos Estados Unidos. Mesmo assim, sua música teve um peso enorme durante todo o século 20.
O blues foi decisivo para o nascimento do rock, por exemplo. O jazz tornou-se a música contemporânea popular de mais alta elaboração técnica e artística.
Ambos nasceram diretamente da resistência à exploração e humilhação. Da escravidão, racismo, perseguições e linchamentos. Como tanto sofrimento fez nascer tamanha arte?
Talvez, um pouco da filosofia do alemão George Hegel ajude a entender. Ao referir-se à dialética entre senhor e escravo, Hegel diz que nessa relação nenhum dos dois se realiza como ser humano. Se o escravo é prisioneiro, a liberdade do senhor está limitada pela necessidade de manter vigilância constante.
Mas o único que pode romper essa relação é o escravo. Ele está voltado para a luz. O senhor, para a escuridão. Em sua luta, o escravo tenta usar toda a criatividade de que o ser humano é capaz. Ao senhor resta a função estéril da dominação. Essa busca pela luz influencia tudo o que escravo faz, incluindo sua arte.
Arte não precisa ser alegre, bonita, iluminada, agradável. Mas exige liberdade. Mesmo que nasça das masmorras, precisa de ar puro para sobreviver. É deste esforço para longe das trevas que nasce a arte dos escravos. Dos antigos e dos atuais. Ela antecipa o que a humanidade será capaz de fazer quando todas as pessoas forem livres.
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