A outra razão é o caráter elitista da abolição. Um processo longo e gradual de negociação com os senhores de escravos. Transação que tentou trocar a liberdade dos cativos pelo direito de indenização para aqueles que se julgavam seus donos.
Além disso, a data simboliza a vitória do movimento abolicionista. Mas, os abolicionistas, em geral, não defendiam o fim da escravidão olhando para suas vítimas. Sua preocupação era o atraso econômico a que a utilização de mão de obra forçada condenava o País. Mais do que isso, a maioria desaprovava o convívio com uma “raça” que considerava inferior.
Um dos mais famosos e respeitados abolicionistas foi Joaquim Nabuco. Vejam o que ele escreve sobre os negros:
Muitas das influências da escravidão podem ser atribuídas à raça negra, ao seu desenvolvimento mental atrasado, aos seus instintos bárbaros ainda, às suas superstições grosseiras.O trecho acima foi retirado do livro “O Abolicionismo”, de 1863. Abaixo, outra passagem mostra como o autor teme um movimento organizado pelos próprios escravos:
É assim, no Parlamento e não em fazendas ou quilombos do interior, nem nas ruas e praças das cidades, que se há de ganhar, ou perder, a causa da liberdade.Ou seja, era preciso canalizar a revolta dos escravos para as instituições da monarquia imperial. Desse modo, tentava-se afastar qualquer radicalização que fugisse ao controle da elite branca “esclarecida”.
Felizmente, houve várias revoltas, atos de sabotagem, ações violentas, lideradas por escravos. Do contrário, a negociação pelo alto teria resultados ainda piores. Mas, o fato é que a maioria dos abolicionistas não queria livrar o povo negro. Queria livrar-se dele.
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