Doses maiores

1 de setembro de 2011

O voto e a risada enlatada

O filósofo e psicanalista esloveno Slavoj Zizek é considerado um dos principais pensadores de esquerda da atualidade. Certa vez, ele escreveu sobre a máquina de risadas inventada pelo engenheiro estadunidense Charles Douglass. Trata-se de um mecanismo que solta aquelas gargalhadas que ouvimos em séries e programas humorísticos de televisão.

Para obter fartas risadas, bastava acionar os botões do tal dispositivo. Eis o que Zizek disse num artigo publicado na Folha de S. Paulo:
... quando, à tarde, chego em casa, exausto demais para me dedicar a uma atividade útil, eu simplesmente aperto o botão da TV e assisto a “Cheers”, “Friends” ou a outro seriado; mesmo se eu não rir, mas apenas olhar fixamente para a tela, cansado depois de um dia difícil de trabalho, eu não obstante me sinto reconfortado depois do programa – é como se a tela de TV estivesse literalmente rindo no meu lugar, em vez de mim... (“A risada enlatada”, 01/06/2003).
Em 30/08, a deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF) escapou da cassação. Ela teve seu mandato ameaçado depois de aparecer em vídeo recebendo dinheiro do delator do “mensalão do DEM”. Em votação secreta, a maioria de seus colegas livrou sua cara.

Ao mesmo tempo, o governo federal luta contra a regulamentação da emenda 29. Medida que elevaria de 7% para 10% a parcela destinada à saúde no orçamento federal. Em sua campanha eleitoral, Dilma prometeu priorizar os investimentos em saúde pública.

Estes são só alguns exemplos a serem lembrados nas próximas eleições. É o que acontece quando a elite consegue limitar a participação política popular ao voto. Delegar nossa vontade a políticos profissionais é como deixar que a TV ria por nós. A diferença é que eles riem de nós.

Nas próximas eleições, não se assuste. Ao apertar o botão “confirma” na urna eletrônica, ela pode disparar sonoras gargalhadas.

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