"No meu ponto de vista, há dois corresponsáveis por este processo. Alguns membros da imprensa e alguns policiais". Estas palavras teriam sido ditas por Ana Lúcia Assad, advogada de Lindemberg Alves, condenado pela morte de Eloá Pimentel. Esta teria sido uma das teses usadas por ela durante o julgamento de seu cliente.
A hipótese faz sentido. A inabilidade da polícia é conhecida demais. Quanto à imprensa, é só lembrar o espetáculo em que foi transformado o seqüestro que antecedeu a morte da jovem.
O problema com a argumentação da advogada é outro. Aparentemente, ela também procurou tirar vantagem da exposição aos holofotes, flashes e microfones. Ou seja, entrou no jogo tentando usar as armas daqueles que elegeu como adversários.
Não funcionou, mas, pelo menos, ajudou a mostrar como é pesada a presença da grande mídia. O fato é que ela não se limita a registrar os fatos. Ao contrário, na medida em que o faz, interfere em suas conseqüências. Distorce o passado, condiciona presente e futuro. Lembra o chamado "princípio da incerteza", da física quântica.
Em 1927, Werner Heisenberg afirmou que em nível subatômico o próprio ato de observar altera as propriedades do objeto observado. Por outro lado, quanto maior o objeto, menor a incerteza quanto a suas características.
No caso da grande mídia, não é o objeto que é pequeno. Foi ela que se agigantou diante de outros elementos. Sua condição de monopólio compromete a objetividade que afirma ter. A advogada entrou num terreno controlado pela grande mídia. Perdeu-se na ofuscante luz que mistura fatos e versões.
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