O filme “Histórias cruzadas” merece ser visto. Ele mostra as relações entre empregadas negras e suas patroas brancas, no sul dos Estados Unidos na década de 1960. O racismo escancarado e legalizado torna a vida das domésticas um inferno de exploração e humilhação.
Mas o perigo é a produção tornar o racismo brasileiro mais tolerável. Se aqui ele ganhou formas dissimuladas, não deixa de ser cruel. Principalmente, para quem o sofre. São experiências quase diárias envolvendo sinais de que há uma cor de pele que é tanto mais errada quanto menos clara.
As leis segregacionistas dos estados sulistas americanos acabaram em 1964, graças a muita luta. Uma causa que contou com grande apoio entre os habitantes do norte do país. Mas quando o movimento negro quis ampliar sua luta para o norte, encontraram outro obstáculo. Era a desigualdade econômica entre negros e brancos. Aí, o apoio entre os brancos influentes sumiu. Eles diziam que, nesse caso, valia a competência e a vontade de vencer.
Ou seja, o capitalismo precisava funcionar a todo vapor. Quem pudesse, que acompanhasse, mesmo com 300 anos de escravidão nas costas. Argumentos semelhantes aos utilizados por aqueles que negam o racismo brasileiro. Que consideram a situação muito pior de nossa população negra como um problema de origem exclusivamente econômica.
Eis porque não faz o menor sentido enxergar positivamente a “moderação” do racismo brasileiro. Ou achar que perseguição racial explícita é mais fácil de combater. Os racistas sabem combinar as diversas formas de discriminação de cor para mantê-la viva. Todo racismo é odioso e merece a mesma determinação na luta por seu fim.
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