Doses maiores

14 de fevereiro de 2012

O livro já teve seus dias de facebook

O impacto das novas mídias sobre os processos de conhecimento e informação preocupam pais, professores, estudiosos e militantes sociais. Há muitos sinais negativos vindos das chamadas redes sociais e assemelhados.

Mas é preciso manter certa distância crítica em relação a previsões alarmistas. Um pouco de perspectiva histórica também ajuda. É o que possibilitam alguns trechos do artigo “Desdramatizando a crise da crítica”, de João Cezar de Castro Rocha, publicado em O Globo, em 11/02.

O texto reproduz, por exemplo, as palavras de Giambattista Vico, ditas em 1708:
Sem dúvida, a invenção dos tipos impressos representou uma valiosa ajuda para nossos estudos. Hoje (...) os livros estão disponíveis em grande abundância e variedade. (...) Receio, contudo, que a abundância e o baixo preço terminem por fazer com que fiquemos mais negligentes.
Por quê? O articulista responde citando o filósofo alemão Johann Fichte. Segundo Rocha, em 1807, Fichte:
...respondeu à pergunta, esclarecendo o vínculo entre difusão de textos impressos e negligência do corpo discente. Sua resposta descreve boa parte dos estudantes atuais (apenas substitua-se o livro pelo computador): “(...) os alunos preguiçosos prevalecerão, pois, tanto tendem a descuidar da aprendizagem oral, quanto da formação letrada. De um lado, faltam às aulas, já que o conteúdo das mesmas se encontra nos livros. De outro, negligenciam a leitura porque podem aprender de oitiva”.
E, em 1840, o historiador escocês Thomas Carlyle teria dito:
Com a invenção da Imprensa, todas as universidades sofreram uma transformação. Talvez as universidades tenham mesmo sido superadas! (...) A verdadeira Universidade de nossos dias é uma Biblioteca.
Como resposta a esta ameaça, o autor aponta a solução encontrada pelo filósofo alemão Wilhelm von Humboldt, em 1810:
Ele criou a associação indispensável entre ensino e pesquisa que fundou a universidade moderna. Ora, se além do ensino também se fomenta a pesquisa, produz-se conhecimento novo. Ou seja, que ainda não se encontra em livro algum!
Mal comparando, poderíamos dizer o mesmo em relação às novas mídias. Elas podem ser utilizadas para democratizar a troca de informações e o conhecimento. Ou para aumentar o potencial de nossas mobilizações sociais e políticas.

Mas tal como no caso da pesquisa nas universidades, é preciso muita clareza quanto aos objetivos. A pesquisa acadêmica voltada para os interesses do mercado só reforça a alienação geral da sociedade. O mesmo pode acontecer se as redes virtuais substituírem a experiência da luta e da organização reais.

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