Doses maiores

25 de maio de 2012

A cigarra grega nas garras das formigas capitalistas

A grande mídia gosta de culpar o povo grego por sua atual situação de crise. Há até quem use a fábula da formiga e da cigarra. A Grécia seria a cigarra, que só quer saber de diversão e não pensa no futuro. Representaria o oposto da formiga alemã, trabalhadora e previdente.

Para que fizesse sentido seria preciso mudar a fábula. Na vida real, a formiga fez suas provisões à custa da exploração da situação vulnerável da cigarra. Mas mesmo admitindo a irresponsabilidade da cigarra, foi a formiga que lhe emprestou a guitarra e incentivou suas farras.É o que podemos deduzir de um texto do Núcleo Interdisciplinar de Estudos da Globalização Transnacional e da Cultura do Capitalismo.

O artigo, cujo título é “França, Grécia e a ‘grande armadilha’”, lembra que para fazer parte da Zona do Euro, a Grécia precisou comprovar certas condições econômicas. Para isso, seus governantes contrataram a consultoria do Goldman Sachs. O banco maquiou números e viabilizou a adoção do euro pelo país, em 2002.

Veio a crise de 2008. O inverno chegou e pegou a cigarra desabrigada. A Grécia pediu ajuda ao Banco Central Europeu. A instituição é presidida atualmente por Mário Draghi. Por estranha coincidência, Draghi era vice-presidente do Goldman Sachs em 2002. Moral da história:

...o mesmo Banco Central Europeu que na semana passada deixou de oferecer liquidez financeira a alguns bancos gregos, em meio a uma grande quantidade de saques da população, é presidido por alguém que já teve alto cargo de direção no mesmo banco responsável pelos problemas atuais da Grécia.

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