Doses maiores

16 de outubro de 2014

A onda conservadora não é evangélica

Silas Malafaia afirmou em 2013: “Se o Feliciano tiver menos de 400 mil votos na próxima eleição, eu mudo de nome”. O pastor homofóbico se reelegeu com apenas 398 mil votos. E o temido “tsunami evangélico” virou marola.

É verdade que os evangélicos Clarissa Garotinho, Eduardo Cunha, Christiane Yared e Pastor Eurico foram campeões de voto.  E que Marcelo Crivella, da Igreja Universal, foi para o 2º turno no Rio. Mas a chamada "bancada evangélica” cresceu 3%, contra os 20% ou 30% previstos inicialmente. O “pastor” Everaldo teve metade da votação de Luciana Genro.

O mito da “ditadura evangélica” é muito conveniente. O maior problema de Eduardo Cunha, por exemplo, não é sua opção religiosa. É sua atuação como representante das operadoras de telefonia. Nessa condição, ele liderou a oposição à aprovação do Marco Civil da Internete na Câmara.

Enquanto isso, Cabo Dacioclo, eleito deputado federal pelo PSOL-RJ, recebe mais atenção por ser evangélico que por ter liderado a greve dos bombeiros fluminenses.  

Muitos progressistas usam o terror antirreligioso para se omitir na luta por direitos humanos e liberdades individuais. Mas a ONG “Católicas pelo direito de decidir” apoia o direito ao aborto. Muitas comunidades evangélicas acolhem fiéis gays. Há várias forças religiosas dispostas a marchar junto com a esquerda.

O Congresso eleito é, realmente, o mais conservador em 50 anos. De fato, a maioria das lideranças evangélicas é de direita. Mas nosso maior problema não é a religiosidade popular. É o uso que o poder econômico faz dela. A mais fanática e perigosa força política de nossa sociedade é a do grande capital.

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