Doses maiores

28 de outubro de 2014

Separatismo paulista: gente que rouba

Em meio à onda de ódio aos nordestinos que vem infectando a internete, ressurgem manifestações separatistas. Muitas delas defendem a superioridade de São Paulo em relação ao que seriam a regiões atrasadas e pobres do País.

Em seu livro “A ralé brasileira”, Jessé Souza mostra que essa estupidez é mais antiga do que parece. Segundo o autor, tudo começou com o mito do patrimonialismo. Para ele, este conceito sociológico criado por Sérgio Buarque e aperfeiçoado por Raimundo Faoro mostrou-se bastante conveniente para nosso sistema de dominação.

Muito resumidamente, o patrimonialismo considera o Estado a fonte de todo o mal. Responsável pela apropriação dos bens públicos por uma elite egoísta e irresponsável. Já a sociedade, seria o lugar onde homens e mulheres lutariam por sua sobrevivência honesta e dignamente. Por “sociedade” entenda-se mercado, diz o autor.

Mas esta fórmula omite o quanto o Estado serve fiel e prioritariamente a uma parte importante e poderosa da sociedade: o grande capital.

Ao mito do patrimonialismo nacional corresponderia o “mito de São Paulo”. Segundo esta fantasia, na maior parte do país prevalecem relações de favor, dependência do Estado, “jeitinho brasileiro” e displicência produtiva. Em São Paulo, porém, reinaria a competição justa e longe dos favores estatais, a eficácia e a disciplina fabril.

Pena que nada disso combine com figuras como Paulo Maluf ou com a histórica concentração de investimentos estatais no parque industrial paulista.

Não à toa, a “pujança paulista” é simbolizada pelos bandeirantes. Estes assassinos de índios e negros foram assim descritos por um governador de Pernambuco no século 17: “Gente bárbara, indômita e que vive do que rouba”.

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