Doses maiores

1 de fevereiro de 2016

Hip-Hop é pra fazer revolução!

Em 31/01, o Gas-PA, rapper do coletivo de hip-hop “Lutarmada” deu uma entrevista ao site Polifonia Periférica. O depoimento mostra que os 25 anos de estrada não atenuaram nem cansaram a trajetória radical e combativa do artista. O compromisso com a luta continua o mesmo e mais forte. Um trecho demonstra isso muito bem:

O falar do escravizado era um falar entupido de condicionantes. Sob pena de castigos ultra severos a sua fala era medida no volume e no tom da voz, na velocidade da resposta, na escolha certa das palavras e na postura corporal. A vontade era de mandar geral se fuder, mas o desejo era contido pela noção do perigo que isso representava. Mas nos momentos em que o escravizado não estava sob a vigilância de seus superiores hierárquicos, toda essa angústia, todo esse ódio reprimido era extravazado através da música e da dança. Os momentos de celebração do escravizado era um momento de catarse. Isso significa que a música afrobrasileira é na sua origem, na sua gênese uma música de protesto, de luta, uma válvula de escape pra todo sofrimento, toda angústia sofrida, e expressão de todo anseio de liberdade dos meus antepassados. Taí a capoeira que não me deixa mentir. É dança e música que ao mesmo tempo é luta corporal, fruto do mesmo contexto ao qual me refiro. O que eu faço desde 1991 nada mais é do que ser fiel às minhas origens e à origem da música da diáspora africana no Brasil!

A entrevista toda merece ser lida. Até porque a mensagem final é clara: Revolução Socialista! Confira aqui.

Leia também: O hip-hop nasceu contra a barbárie

3 comentários:

  1. Prezado Sérgio. Não tem tanta relação com o post, mas gostaria de saber sua opinião sobre a possível existência de um teleologismo na visão de Karl Marx. Estou lendo algum conteúdo a respeito e comparando algumas posições, mas, no seu entender, haveria um teleologismo em Marx, para o caso do materializo dialético interpretar as etapas da história como passos em direção ao fim inexorável da superação do capitalismo e inauguração do comunismo? Há quem interprete que, já que as etapas anteriores como a formação da burguesia eram necessárias para a instalação do capitalismo como processo revolucionário, contraponto ao monarquismo absoluto medieval, a concepção revelaria um certo teleologismo, e a partir daí, um paralelo bastante evidente com visões metafísicas, principalmente judaico-cristãs. Me agradaria saber o que o Sr poderia adicionar sobre o problema investigado.

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  2. Prezado Rodolfo, por coincidência estou lendo o livro “Democracia contra o Capitalismo” de Ellen Wood, infelizmente falecida recentemente. E um dos temas de que ela trata é exatamente a teleologia no marxismo. Até onde cheguei na leitura, ela identifica uma tensão teleológica no marxismo, mas não em Marx propriamente dito, a não ser bem no início de seus estudos. Para resumir grosseiramente, Ellen entende que a crítica que Marx empreende contra a economia clássica burguesa atinge exatamente sua pretensão em ver no capitalismo o fim de um longo processo histórico que já estava pré-determinado desde o surgimento do ser humano. Portanto, a economia burguesa, sim, seria teleológica e para combatê-la, Marx precisou elaborar uma concepção de história livre de todas as predeterminações e aberta às incertezas e possibilidades da práxis humana, dentre as quais estaria a construção de uma sociedade justa desafiando a ideia de que a "natureza humana" é necessariamente incompatível com tal possibilidade. De modo que recomendaria a você ler a obra de Ellen.
    Espero que tenha ajudado.
    Grande abraço e obrigado pelo contato.

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    1. Prezado professor. Muito obrigado pela atenção e pela resposta. Estou atrasado com minha leitura, mas estou adicionando sua sugestão aos destaques da minha lista.

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