Irmãos, cá estou. Ainda, no século 21. Cada vez mais espantado com os costumes desta época. Há algum tempo fui levado para o centro de uma de suas grandes cidades. Esqueçam nossos maiores burgos. Não passam de vilarejos se comparados ao menor dos ajuntamentos urbanos por eles chamados de metrópoles.
Dentre muitas outras de suas maravilhas, é impressionante a onipresença de imagens pela urbe. Ruas, praças, fachadas de edifícios, paredes em geral, veículos, postes, cercas. Quase tudo coberto de cartazes coloridos. Quase todos, retratando homens e mulheres bonitos, brancos e sorridentes. Aliás, bastante distintos da população que por entre eles circula.
Diante disso, indaguei um contemporâneo desta época cheia de maravilhas excêntricas. Questionei-o sobre os segredos que se escondem sob tais imagens? Afinal, em nosso tempo, as criações pictográficas requeriam um grande esforço de interpretação. Lembro de Piero della Francesca e suas pinturas cheias de enigmas. O ovo de avestruz sobre a cabeça da Virgem em “A Sacra conversação”. O “Flagelo de Cristo” e a dúvida sobre quem seriam os cavaleiros que se apresentam em primeiro plano.
Pensei que tamanha profusão de representações também guardasse seus segredos. Mais do que isso, fossem provas de que finalmente a figura humana tornara-se central em nossa civilização. Evidências de que o humanismo finalmente triunfara sobre o obscurantismo fanático das igrejas.
Mas não é o que meu interlocutor acabou por me explicar. Disse-me ele que as imagens que vi por todos os lados pouco significam. Não são mais do que anúncios para vender coisas. Longe da celebração do humano, representam um novo fanatismo. São cultos estéreis prestados a simples mercadorias.
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