Segundo reportagem de Walter Oppenheimer para jornal espanhol El País de 26/09, isso aconteceu em 27 de setembro. Assim:
...tudo o que consumirmos até o final do ano passa a contar como recursos que o planeta não pode produzir e contaminações que a terra não é capaz de absorver.Seria o resultado da lógica produtiva que impera há alguns séculos. Pode ser exagero, mas certamente em uns 300 anos já fizemos mais estragos que em todos os séculos anteriores. Bem diferente dessa lógica é a de vários povos ameríndios.
O antropólogo Eduardo Viveiros de Castro concedeu entrevista à revista Cult em 13/12/2010. Em certo momento, ele descreve a relação muito especial que alguns povos indígenas estabeleceram com as outras espécies vivas. Citando um exemplo, ele diz que:
...o sangue dos animais que matam é visto pelas onças como cerveja de mandioca, o barreiro em que se espojam as antas é visto como uma grande casa cerimonial, os grilos que os espectros dos mortos comem são vistos por estes como peixes assados etc. Em contrapartida, os animais não veem os humanos como humanos. As onças, assim, nos veem como animais de caça: porcos selvagens, por exemplo. É por isso que as onças nos atacam e devoram, pois todo ser humano que se preza aprecia a carne de porco selvagem.Trata-se de uma inversão simbólica que implica humildade e respeito em relação ao restante da natureza. É o exato oposto da arrogância produtivista com que tratamos o meio ambiente sob as leis de mercado. Uma relação que começa a nos custar caro.
Como bicho, a onça é nossa caça. Como símbolo da natureza agredida pode tornar-se nossa predadora. Vir em busca dos porcos selvagens em que nos transformamos. Estaria chegando sua hora de beber a cerveja. Ou melhor, nosso sangue.
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