Doses maiores

18 de dezembro de 2011

Christopher Hitchens e o fanatismo ateu

Ele foi um dos maiores expoentes do chamado neoateísmo, ao lado de autores como Richard Dawkins, Sam Harris e Daniel Dennett. Seu livro "Deus Não É Grande" (Ediouro), de 2007, é um exemplo típico deste chamado neoateísmo: Deus não só não existe como a ideia de Deus é idiota, infeliz e faz mal à saúde física e mental.
As palavras acima são de Luiz Felipe Pondé, professor de Filosofia, em artigo publicado na Folha de S. Paulo, em 17/12. Referem-se a Christopher Hitchens, morto dois dias antes. Resumem menos a idiotice da crença em Deus que a estupidez do ateísmo do próprio falecido.

Hitchens era daqueles ateus que envergonham muitos dos que não crêem. Nos faz parecer gente rancorosa e arrogante. Que considera os teístas ignorantes, supersticiosos, obscurantistas. Pensam que a ciência pode tudo explicar. Se não o fez ainda, um dia o fará.

Ciência e religião são duas formas com que o ser humano tenta explicar o universo e seu lugar nele. É natural que haja divergências entre elas, pois partem de pontos de vista diferentes. Mas trata-se de um debate legítimo e importante. Os problemas começam quando passam a ser usadas para justificar a dominação e a exploração de uma parte da sociedade pela outra.

Desde que a sociedade de classes passou a existir, as instituições sociais tendem a se aliar à classe dominante. Grande parte de seus dirigentes tem como objetivo maior fazer parte do grupo socialmente privilegiado.

As disputas envolvendo as igrejas entre si ou com outras áreas, como a academia, são reais e muito duras. Porém, têm pouco a ver com a busca pela revelação divina ou pela certeza científica absoluta. Representam muito mais uma briga para conquistar influência social e poder político e econômico.

É o caso de Hitchens. Ele apoiou a invasão do Iraque e a eleição de Bush, por exemplo. Ou seja, combatia um fanatismo em favor de outro. Que o Diabo o agüente.

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4 comentários:

  1. Desconfio daqueles que são contra a fé do outro, o nome que se dá a cosmovisão. Pode ser teologia, teomarxia, teocapitalismo. Uns sonham em alcançar sua utopia outros vivem mesmo que tenha um custo para a maioria, se encontra ideologias para justificar dai é só comunicar na mídia como verdade.

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  2. Raramente lemos algo sobre a apofenia, isto é, a capacidade psico-fisiológica inata - que pode se desenvolver ou não -, em acreditar no improvável. Se há crenças religiosas, se o dogma sobrevive é em função deste fenômeno. Tanto é que há uma expectativa de que em breve nove países se tornarão ateus (ou agnósticos...) em função dos seus hábitos educacionais, principalmente com crianças, onde não há espaço para entes, santos, espíritos, alma etc. Dificilmente alguém formado sem crenças na infância passa a tê-las na idade adulta. Este aspecto quase nunca é levado em consideração...

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  3. Realmente, Cristiano. Pouco se fala nisso. Mas não acredito que a religião venha a desaparecer, mesmo em sociedades mais racionais e laicas. O problema é sua institucionalização e instrumentalização como elemento de poder e justificador da exploração mútua entre os seres humanos. Obrigado pelo comentário. Abraço!

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  4. Sou menos cético. Acho que se promovermos uma educação laica num estado laico, as coisas podem mudar, sim. Reduziríamos o número de pessoas sugestionadas e propensas a aceitar a improbabilidade. Sem servos tementes e obedientes, não existiriam crenças. E para que serviriam religiões sem o poder e o escravismo? Esta tem sido a sua finalidade desde o surgimento...

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