Doses maiores

20 de dezembro de 2011

Os riscos de um apocalipse europeu

A crise econômica que atingiu a Europa nos anos 1930 preparou a catástrofe que viria com a 2ª Guerra. Também foi terreno fértil para o fascismo.

Algumas previsões sobre a atual crise européia não estão muito longe disso. É o que mostra reportagem de Diego Viana para o Valor, publicada em 16/12. Com o título de “O roteiro catastrófico da morte da moeda”, o texto diz:
Uma recessão severa, "talvez um cenário de depressão", nas palavras do economista Jens Nordvig, do banco Nomura, pode não ser o pior dos prospectos para a Europa nos próximos anos. Analistas de bancos como ING, UBS, Crédit Suisse e Citigroup publicaram nas últimas semanas estudos sobre o continente caso o euro seja abandonado por um país ou mesmo todos. As projeções incluem corridas bancárias, inflação explosiva, desintegração do comércio e graves retrocessos políticos. Dentre as consequências estimadas por Nordvig, figuram "o calote generalizado de dívidas soberanas e corporativos, crise bancária, fuga de capitais, inflação muito elevada. Em alguns países a política monetária ficaria impossível".
O fim do euro significaria o retorno às antigas moedas. Marcos, francos, escudos e pesetas voltariam a ser emitidos. Para a maioria dessas moedas, a desvalorização seria inevitável. A reportagem cita alguns exemplos:
... a nova moeda grega se estabeleceria em nível 57,6% abaixo da cotação atual do euro; a portuguesa, a 47,2%; e a espanhola, 35,5%. Países mais sólidos teriam desvalorizações bem menores: 6,8% na Áustria e 9,4% na França. A Alemanha é o único país com potencial de alta: 1,3%.
Ou seja, diz o texto:
... a quebra da união seria desordenada. Além de moratórias soberanas e corporativas - empresas com dívidas em euro não poderiam honrá-las -, corridas bancárias, como houve nos EUA em 1933 e na dissolução da Tchecoslováquia em 1993, têm 90% de chance de ocorrer nos países periféricos. Em caso de colapso total, os saques teriam risco de 30% nos centrais.
Um cenário que teria “probabilidade de quase 100% para Grécia, Portugal ou Irlanda”. Mas “mesmo Alemanha, França e Itália correm o risco de um desastre em suas relações comerciais, já que as linhas de financiamento dependem de bancos que correriam o risco de quebrar”, diz a reportagem.

E o texto conclui em tom quase apocalíptico:
Com o aumento do desemprego, o colapso do comércio e a explosão da inflação, a história ensina que o desfecho provavelmente descamba para a política. O colapso do euro representaria, segundo a equipe do UBS, um risco de 75% de regime autoritário, golpe militar ou guerra civil nos países periféricos. Mesmo os centrais correm esse risco (10%).
É o que dá colocar a economia acima da política. Infelizmente, algo cada vez mais constante em um sistema dominado pelo valor de troca.

Leia também: A Europa corroída por sua moeda

Um comentário:

  1. A política adotada é colocar a economia acima de qualquer coisa. Portanto, essa é a política, esvaziada de discussões, dominada de argumentos baseados em opiniões sobre números. E os números permitem tudo. Vejo liberais falando do Euro como um erro agora assim como vi vomitarem que era um exemplo a ser seguido no Mercosul há 20 anos!!! O que mais se teme é que os discursos políticos descambem para o nacionalismo e para o reforço de bodes expiatórios, a populaação imigrante mulçumana e africana.

    ResponderExcluir