Doses maiores

21 de julho de 2013

Papa Francisco, o leopardo

Poucos meses depois de sua eleição, o Papa Francisco faz grande sucesso. Basta ver algumas manchetes de jornal: “A revolução de Francisco. Sem corte, rubi e camareiros”, “Papa Francisco ocupará quarto igual a de cardeais no Rio”, “Papa faz visita surpresa à garagem do Vaticano e exige carros ‘humildes’”, “Papa Francisco aprova lei que criminaliza abuso sexual a menores no Vaticano”.

Não por acaso, a revista “Vanity Fair” considerou Francisco o “Homem do Ano”. Ele assumiu a chefia de uma instituição em profunda crise. Envolvida em denúncias de pedofilia, orgias sexuais, corrupção, gastos excessivos, lavagem de dinheiro. Mas conseguiu ofuscar tudo isso com atitudes de grande apelo popular.

Entre suas iniciativas de impacto, está a primeira viagem na condição de papa. Francisco visitou a ilha italiana de Lampedusa, onde denunciou a globalização excludente da Europa. É lá que desembarcam anualmente milhares de imigrantes clandestinos vindos do norte da África. Centenas deles morrem afogados na travessia pelo Mar Mediterrâneo.

O nome da ilha coincide com o de um famoso escritor italiano. Trata-se de Giuseppe Lampedusa, autor de um clássico da literatura universal chamado “O Leopardo”. A obra contém uma frase muito citada em relação a certas situações políticas e sociais: "Algo deve mudar para que tudo continue como está".

O fato é que o Vaticano continua a ser um poderoso estado teocrático. Um antro de conservadorismo, cúmplice de um sistema produtor de injustiça e desigualdade. Poderoso defensor de crenças fanáticas, que procura transformar em leis por todo o mundo.

As novidades de Francisco não vão mudar nada disso. Mesmo um leopardo sem pintas continua sendo um leopardo.

Leia também: O papa do pau oco

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