Doses maiores

13 de julho de 2015

O Vaticano, entre a cruz e o Kremlin

Em 08/07, Evo Morales deu ao Papa Francisco um crucifixo formado com a foice e o martelo, causando enorme polêmica.

A cruz foi idealizada pelo padre Espinal, mártir da luta dos trabalhadores bolivianos, torturado e morto por paramilitares em 1980.

Mas o padre Xavier Albó, que o conhecia bem, afirma que Espinal nunca foi comunista. A cruz simbolizava a necessidade de diálogo entre a igreja engajada socialmente e o movimento operário.

Nesse sentido, Morales foi coerente. Francisco tampouco é comunista. Talvez, não seja nem de esquerda. Pelo menos é o que afirma o historiador Massimo Faggioli, professor de história do cristianismo da University of St. Thomas, em Minnesota, Estados Unidos.

Em artigo publicado pela IHU-Online, em 10/07, ele diz que Francisco é um “centrista” que inovou pouco em relação aos princípios da doutrina social da Igreja, estabelecidos pela encíclica “Rerum novarum”, de Leão XIII, editada em 1891.

Faggioli também cita o caso da bula “Populorum progressio”, de Paulo VI (1967), que teria um “tom mais ‘marxista’ do que a recente ‘Laudato si”’. Nela, aparece, por exemplo, o papel histórico dos pobres.

Ainda segundo o autor, “não foi a Igreja que se radicalizou, mas foi o mundo que se alinhou com um neoliberalismo que é o antagonista por excelência da moral social católica...”

Ao mesmo tempo, Faggioli considera catolicismo e comunismo duas das “formas mais duradouras de universalismo”.

De fato, “katolikos”, em grego, significa "universal". Comunismo remete à necessidade de construir a grande comunidade humana, sem exploração e opressão.

Mas aceita a comparação, o Vaticano seria, no máximo, uma ditadura stalinista, jamais uma Comuna de Paris.

Leia também:
Francisco e a teologia ecossocial neoliberal

2 comentários:

  1. Desculpa, mas o Evo Morales foi ousado: dar uma cruz no formato da foice e martelo, foi provocação. Não se faz isso com o sumo pontífice. E como provocação, valeu. Serviu para delimitar o que é bravata do que é verdade. O papa nem trouxe o "presente". Sergio, você comenta que o papa "talvez não seja de esquerda". Tem dúvida? Concordo que o Vaticano está mais para o estalinismo. E o papa junto, afinal que papel ele representa?

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  2. Concordo, Mário. O papa não é de esquerda. Mas tem tanta gente boa da esquerda querendo muito que ele seja que o "talvez" cabe. Voltando ao "talvez", o Bergoglio até está à esquerda dos dois últimos papas, só não dá pra esquecer que o Vaticano nunca foi nem será.

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