Doses maiores

21 de junho de 2018

Desde Platão, destruindo a natureza sem culpa

Segundo a famosa alegoria de Platão, aqueles que estão presos em uma caverna acham que as sombras projetadas pela luz externa em suas paredes são toda a realidade a ser conhecida.

Para ele, nossas almas são como esses prisioneiros, escravizados pelo mundo da experiência sensorial, incapazes de ver diretamente a realidade e confundindo formas ilusórias com a verdade.

Poluída por desejos físicos, a parte da alma que é orientada pelo corpo está em conflito com sua parte espiritual.

Em uma pessoa disciplinada, explica Platão, o desejo obedece à razão, assim como, em um Estado bem organizado, as ordens inferiores obedecem aos governantes.

Trata-se de um cosmos dividido entre um mundo ideal, conhecido apenas pela alma, e o mundo material mutável, experimentado pelo corpo.

A tradição cristã se apropriou dessa concepção considerando o corpo como fonte de todo o pecado.

O filosofo Descartes daria novo impulso a essa separação. Dizer que “penso, logo existo” significa que é a mente separada do corpo que nos torna realmente humanos.

Nossos corpos são mera matéria sem valor intrínseco. E se isso é verdade para eles, deve ser igualmente verdadeiro para o resto da natureza - animais, plantas e tudo o mais.

Desse modo, pensadores religiosos e racionalistas podem discordar em tudo, exceto sobre a santidade da mente (alma) em contraste com o resto da natureza.

O relato acima é baseado no livro “The Patterning Instinct”, no qual Jeremy Lent procura explicar como a tradição ocidental aprendeu a destruir a natureza sem qualquer culpa.

O autor compara essa concepção com outras tradições, como a chinesa. Mas fica para a próxima.

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