Doses maiores

13 de julho de 2016

A pobreza da esquerda economicista

Em 05/07, o IHU On-Line publicou entrevista com Gabriel Feltran, professor de Sociologia da Universidade Federal de São Carlos. Ele estuda as relações conflituosas entre família, mercado de trabalho, igrejas, políticas sociais, crime e Estado.

Em relação à expansão da criminalidade entre os mais pobres, Feltran destaca as desigualdades econômicas. Afinal, diz ele, vivemos uma realidade em que “uns criam os filhos com meio salário mínimo mensal”, enquanto “outros andam de helicóptero e gastam dois salários mínimos em um jantar”.

Mas o entrevistado recusa a abordagem economicista dos conflitos sociais. Afinal, afirma ele, se há “jovens inscritos no tráfico que pensam apenas no dia de hoje, gastam mil reais em uma noite”, também há os que “trabalham durante o dia e estudam à noite, pagando prestações de carro, casa e eletrodomésticos”.

Para ficar ainda mais claro, outra afirmação:

O rapaz negro que trabalha no shopping como segurança e faz faculdade à noite ou o filho de operário que ingressou por ação afirmativa na universidade pública não têm visões de mundo iguais às do ‘irmão’ do PCC ou do pastor da Igreja Universal, ou ainda de um soldado da Polícia Militar. E eles podem estar na mesma família, porque os projetos de vida são mais individualizados e o mercado de trabalho mais segmentado. Polícia, crime, igreja e trabalho são esferas de vida que se interpenetram.

Ou seja, a realidade dos mais pobres é tão tridimensional como qualquer outra. Que a direita não entenda isso, compreende-se. Que a maior parte da esquerda faça o mesmo, só mostra que chata e pobre, mesmo, é sua visão de mundo.

Leia também: Jessé Souza e a necessária sociologia das subjetividades

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