Doses maiores

5 de julho de 2016

As bobagens de nossas ideias inteligentes

No livro "A Tolice da Inteligência Brasileira", Jessé Souza mostra como se tornou senso comum a ideia de que a corrupção é um problema muito brasileiro e puramente estatal. Segundo ele:

...o mercado capitalista, aqui e em qualquer lugar, sempre foi uma forma de “corrupção organizada”, começando com o controle dos mais ricos acerca da própria definição de crime.

Criminosos são apenas os servidores corruptos ou batedores de carteiras, não o especulador financeiro que “às vezes arrasa a economia de países inteiros”. “Enquanto os primeiros vão para a cadeia, diz Souza, o segundo ganha foto na capa da revista The Economist”.

O autor lembra que, na verdade, o Estado é “o único lugar onde a corrupção ainda é visível como tal, e tem, portanto, alguma possibilidade de controle real”.

O raciocínio faz sentido se pensarmos que há duas grandes formas de roubar o dinheiro público. Uma é tirando dos cofres do governo. Esta é a mais conhecida, sempre divulgada amplamente pela grande mídia.

A outra forma de roubar verbas públicas acontece antes de elas chegarem aos cofres do Estado. É a sonegação, sempre ignorada pelos jornalões.

Segundo o Sonegômetro do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda, em 2015 foram sonegados R$ 539 bilhões, ou 9% do PIB. Este ano, até início de julho já eram 275 bilhões. E quem são os principais responsáveis por isso? Os gatos gordos do justo e imaculado mercado!

É por isso que Souza conclui:

Quem é feito de tolo aqui são partes significativas das classes médias e trabalhadoras ascendentes, muitas delas que defendem o Estado mínimo e o mercado máximo.

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