Em 1895, Eleanor, filha de Karl Marx, escreveu que das
muitas fábulas contadas por seu pai, a mais “maravilhosa e deliciosa” era a de
"Hans Röckle":
Ela durou meses, era uma série inteira
de histórias... O próprio Hans Röckle era um mágico tipo Hoffinann que tinha
uma loja de brinquedos e que estava sempre "duro". Sua loja estava
cheia das coisas mais maravilhosas - homens e mulheres de madeiras, gigantes e
anões, reis e rainhas, servos e mestres, animais e pássaros tão numerosos
quanto os que entraram na Arca de Noé, mesas e cadeiras, carruagens, caixas de
todos os tipos e tamanhos. Embora ele fosse um mágico, Hans nunca conseguia
cumprir suas obrigações seja para com o demônio seja para com o açougueiro, e
era portanto - muito contra a sua vontade - constantemente obrigado a vender
seus brinquedos para o diabo. Esses brinquedos passavam, pois, por maravilhosas
aventuras, terminando, sempre, por retornar à loja de Hans Röckle.
No livro “O casaco de Marx”, Peter Stallybrass lembra que
antes de Eleanor nascer, seus pais endividados:
...tiveram sua casa invadida por oficiais
de justiça para levar tudo, incluindo "os melhores brinquedos que
pertenciam às filhas", arrancando lágrimas de Jenny e Laura. Mas nas
estórias, tal como nas visitas à loja de penhores, para resgatar objetos
anteriormente penhorados, o momento da perda é desfeito, os brinquedos voltam.
“Foi a esse desfazer sistemático da perda que Marx
dedicou sua vida inteira”, diz Stallybrass. Não apenas a perda dele próprio,
mas a “de toda a classe operária, separada dos meios de produção”.
Aos revolucionários também é imprescindível a sensibilidade
lúdica.
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