Em “Capitalismo e Social Democracia”, Adam Przeworski
considera que “a crise do keynesianismo é a crise do capitalismo democrático”. Na
verdade, poderíamos dizer que se trata do fracasso da crença em reformas socialistas
obtidas pelo voto.
E se a questão é a relação entre eleições e socialismo, recomenda-se
consultar a obra de Marx.
Segundo Przeworski, Marx considerava a convivência entre
propriedade privada dos meios de produção e sufrágio universal uma combinação explosiva.
Levaria ou à "emancipação social" das classes oprimidas devido a sua
condição de maioria, ou à "restauração política" da classe dominante
por meio do poder econômico de que ela dispõe.
Por isso, Marx acreditava que a democracia capitalista
somente se manifestaria como um "estado excepcional e espasmódico de
coisas”, sendo impossível se estabelecer como funcionamento normal da
sociedade.
Aparentemente, esta avaliação foi desmentida pela
história política posterior. Mas considerando o direito ao voto universal como critério
para definir a democracia moderna, teríamos apenas uns 60 anos de sua vigência nos
dois séculos de existência do capitalismo. Assim mesmo, para, no máximo, uns
30% da população mundial.
Mas até mesmo essa democratização tímida começou a ser
revertida pelo neoliberalismo a partir dos anos 1980. Governos eleitos passaram
administrar miudezas. Bancos centrais e gabinetes econômicos ficaram
encarregados do que realmente importa: a manutenção da acumulação capitalista,
gerando enormes lucros para muitos poucos.
Ou seja, Marx não estava tão errado ao denunciar o
caráter espasmódico da democracia burguesa. Afinal, limitar a participação
popular à realização de eleições é tão equivocado para a maioria quanto
conveniente para a minoria.
Na próxima pílula, que tal indicar governantes por
sorteio?
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