Doses maiores

4 de setembro de 2017

Marx e Engels 4.0

Poucas coisas deixavam Marx e Engels tão irritados quanto atribuírem a suas obras dons proféticos. Em seus rascunhos para “O Capital”, por exemplo, Marx afirma:

Se a sociedade, tal como é, não contivesse, ocultas, as condições materiais de produção e circulação necessárias a uma sociedade sem classes, todas as tentativas de criá-la seriam quixotescas.

O Manifesto Comunista afirma que a burguesia “não pode existir sem revolucionar incessantemente os instrumentos de produção, por conseguinte, as relações de produção, e com isso, todas as relações sociais”.

E sob esta lógica, dizem Marx e Engels, “dissolvem-se todas as relações sociais antigas e cristalizadas, com seu cortejo de concepções e de ideias secularmente veneradas (...). Tudo o que é sólido e estável desmancha no ar”.

A Revolução da Inteligência Artificial parece ser mais um passo nesse caminho de dissolução das certezas. E, desta vez, tudo indica que a uma velocidade muito maior do que a que se verificou com o vapor, a eletricidade e a informática.

Poucos se mostraram tão entusiasmados com os avanços tecnológicos do capitalismo quanto os dois revolucionários alemães. Mas sempre sob a condição de que eles viessem para beneficiar toda a humanidade e não apenas uma pequena parte dela.

A Revolução 4.0 apresenta um grande potencial nessa direção. As chamadas economias compartilhadas ou do comum, por exemplo, podem ganhar uma forte dimensão anticapitalista a partir dela.

Que tais possibilidades estejam sendo utilizadas para a criação de monopólios como Google, Facebook, Uber, Airbnb, relaciona-se menos às tecnologias envolvidas e mais aos valores que as orientam. Muito menos a debates acadêmicos, muito mais à luta de classes.

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