Doses maiores

14 de setembro de 2017

Os riscos de um favelismo institucionalizado

"Queremos o preto e o favelado no centro do processo decisório", diz Wanderson Maia em entrevista publicada na CartaCapital, em 12/09. Junto com Patrícia Alencar, Maia preside a Frente Favela Brasil, partido recém-criado e em busca de legalização.

Ainda que legítima, quais seriam os riscos implicados nessa busca pela ocupação do “centro do processo decisório"? O entrevistado afirma, por exemplo, que “os negros foram alijados de toda a estrutura social, a eles foram renegados vários direitos fundamentais”.

Não há o que discordar da primeira parte da afirmação. Mas que os negros tenham sido alijados de “toda a estrutura social” já não é tão certo. Seu lugar na sociedade brasileira sempre foi muito bem delimitado. É o de servir, principalmente, como força-de-trabalho superexplorada e alvo prioritário da violência estatal.

Mas se considerarmos as instituições do poder, destas sim, a população negra e favelada está absolutamente excluída. O problema é que o lugar social que esses setores ocupam na sociedade é produto inseparável dessa mesma institucionalidade.

Ou seja, seria possível transformar uma estrutura social extremamente injusta ocupando instituições cuja principal missão é mantê-la? Os criadores da Frente Favela Brasil acham que sim. Do contrário, não estariam buscando registro eleitoral e discutindo a possibilidade de lançar candidaturas nas próximas eleições.

Mas não é o que indicam as experiências de vários setores populares que tentaram transformar radicalmente suas condições de vida através de representações parlamentares e governamentais. Diante disso, os “favelistas” poderiam alegar que o que faltou nessas experiências foi exatamente o corte social que estão propondo.

Pode ser, mas são grandes as chances de que ocorram enormes frustrações.

Leia também: A esquerda e o “favelismo”

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