Foi do livro de Tchernyshevsky que Lênin emprestou o título para sua
obra mais famosa sobre concepção de partido. Mas quando a Revolução de 1917 foi
vitoriosa, “O que fazer?” já tinha 15 anos. E até seu autor o considerava ultrapassado.
É o que se nota, por exemplo, na coletânea "Doze Anos",
publicada por Lênin em 1906. Num dos textos, ele procura responder aos críticos
de seu famoso livro, afirmando:
O erro principal dos que hoje polemizam com o
“Que Fazer?” consiste em desligar por completo esta obra de uma situação
histórica determinada, de um período histórico concreto do desenvolvimento de
nosso partido que passou há muito tempo.
De fato, é difícil reconhecer no partido que liderou a tomada do poder
pelos sovietes a concepção organizacional defendida por Lênin em “O que fazer”.
Um ótimo artigo escrito pelo marxista estadunidense Hal Draper procura
explicar esse processo. Transformar o livro de Lênin em fórmula sagrada sobre organização
partidária interessava tanto à contrarrevolução stalinista como a forças de
direita.
Publicado por Draper em 1990, “O mito da ‘Concepção Leninista de
Partido’ ou ‘O que fizeram com ‘O que fazer?’”, ainda não tem tradução para o português.
Mas um resumo dele pode ser acessado aqui.
A argumentação de Draper pode ajudar a entender porque a “longa
sombra” a que se referiu Miéville vem, na verdade, assombrando muitas gerações de
socialistas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário