Doses maiores

18 de junho de 2010

Saramago não vai a deus

José Saramago morreu. O escritor já não escreve. Era também um lutador. Lá com suas armas. Pena, caneta, máquina, computador. Usados em boa parte de seus 87 anos. Para nós, a melhor parte.

Nos deixam suas longas sentenças. Quase sem pontuação especialmente aqueles incômodos pontos de interrogação. Mesmo sem eles, fazia muitas perguntas incômodas. Sobre a injustiça social, a exploração, a opressão e a estupidez humana em sua forma mais acabada: o capitalismo. Sobre o qual não tinha interrogações. Só afirmações ácidas.

Nos anos 90 imperava o discurso único neoliberal. Saramago confessou-se um dinossauro, se dinossauros fossem os comunistas. Melhor seria dizer que velhas, pesadas e brutais eram as idéias dominantes. Aquelas que defendem um modo de vida que ameaça de extinção tudo o que se pode considerar humano.

O Nobel que ganhou em 98 pouco vale perto da censura que sofreu em Portugal. O evangelho segundo jesus cristo foi proibido. Abalou os católicos de sua terra natal. Medalha mais reluzente não lhe poderiam dar seus patrícios idiotas. Morreu em exílio voluntário, em Espanha.

Era rabugento com Deus. Como a erva que lhe emprestou o sobrenome, Saramago é um tanto rústico quando trata das coisas divinas. Deveria ser mais tolerante com uma das criações mais interessantes da humanidade, para o bem e para o mal. Já não falemos o mesmo da religião institucionalizada.

Mas não vamos ralhar muito com quem recém partiu. Se calhar, deus existindo, Saramago certamente não lhe fará reverências. Teimoso, vai preferir o inferno, com seu chefe malicioso e a companhia de outros subversivos.

Saramago não vai a deus. Nem mesmo vai. Fica conosco em suas obras e idéias. Mas lá se vão sua língua ferina e a escrita sábia. Então, vai Saramago adeus

Um comentário:

  1. Viva José Saramago!

    Amigo você escreveu muito, e com profundidade; vamos seguir suas orientações.

    As tuas palavras inspiram, aspiram; intuições e atos de coragem.

    Bandeiras!

    Morreu?

    Não ele Vive José Saramago!

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