Mas, talvez, o
maior problema não seja este. Afinal, trata-se de obra de ficção. Mais grave é
concluir que o livro faz sucesso porque atende às necessidades do erotismo feminino.
E este se caracterizaria por valorizar a imaginação, em oposição ao entusiasmo
masculino pelas imagens. Para eles, o explícito das revistas pornôs. Para elas,
o implícito dos livros eróticos.
Pode até fazer
sentido, mas não porque sexualidade das mulheres seja naturalmente bem
comportada. Na verdade, a iniciativa erótica feminina vem sendo reprimida pelo
machismo há milênios. As mulheres devem manter-se à espera do parceiro. Dar-se
à escolha, jamais escolher. Já quanto aos homens, espera-se a disposição de
predador insaciável, permanente garanhão oportunista e violento.
Simone de
Beauvoir disse que ninguém nasce mulher, torna-se. O prazer feminino não está
condenado a algumas possibilidades eróticas. O mesmo vale para o desejo
masculino. A vida sexual humana não obedece a leis naturais. Seus limites são
sociais e culturais. Podem e devem ser tensionados, alterados, rompidos,
enriquecidos.
Por mais tons que se descubra no cinza, continua sendo cinza. A sexualidade humana pode
abranger todo o espectro cromático dos desejos eróticos. Oferecer todas as
cores para mulheres e homens nas gradações mais variadas.
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