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24 de outubro de 2017

Soldados chineses na Guerra Civil Russa

Do livro “História da Guerra Civil Russa 1917 – 1922”, de Jean-Jacques Marie:

Uma caricatura monarquista, muito divulgada na época da guerra civil, representa Trotsky, com o nariz bem adunco e a estrela de Davi no peito, com as pernas sobre o muro do Kremlin; abaixo dele, montanhas de crânios. Sete soldados do Exército Vermelho enfiam suas baionetas nesses crânios. Cinco deles são chineses, facilmente reconhecíveis pelos olhos puxados e pela trança. Os historiadores nacionalistas russos repetem um após o outro que a vitória dos bolcheviques na guerra civil se deu graças aos 300 mil estrangeiros dos batalhões e regimentos “internacionalistas”, compostos de chineses, húngaros, alemães – ex-prisioneiros de guerra –, ou coreanos, que haviam fugido de seu país, que sofria uma feroz ocupação japonesa. Em sua xenofobia, incluem frequentemente nesse grupo até mesmo regimentos de basquires e quirguizes, populações que faziam parte do Império Russo havia décadas. Eram tratados como indivíduos de segunda categoria, senão pior.

Mas esta terrível visão racista apoia-se em alguns elementos verdadeiros.

Em janeiro de 1918, em pleno campo de batalha, o general do Exército Vermelho, Iona Yakir, foi acordado ao amanhecer por gritos. Eram uns 450 chineses, que trabalhavam em uma indústria madeireira da região.

Três deles foram acusados de espionagem e fuzilados por tropas contrarrevolucionárias. Furiosos, resolveram se juntar aos “vermelhos”.

Eram “soldados formidáveis”, diz o livro:

O vizinho, o colega, o amigo ou o irmão tombam, e o soldado vermelho chinês, impassível e imóvel, arma seu fuzil e atira até o último cartucho. Os cossacos não fazem prisioneiros chineses; massacram todos, ou melhor, despedaçam-nos a golpes de sabre.

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