Doses maiores

21 de março de 2022

A revolução, o exército e as forças policiais

Muita gente acha que os bolcheviques fizeram a revolução à frente de uma enorme máquina de guerra. Mas o Exército Vermelho foi formado somente após a tomada do poder, graças principalmente a Trotsky, que defendia a necessidade de preparar o novo regime para se defender militarmente do cerco imperialista e da contrarrevolução interna.

Mas, então, como os revolucionários enfrentaram as poderosas forças repressivas do antigo regime? Fazendo um longo e dedicado trabalho militante nos quartéis e nas trincheiras.

É preciso lembrar que o exército russo foi bastante ampliado para lutar na Primeira Guerra. Incluindo, a convocação de muitos camponeses. Gente que dificilmente entraria em contato com trabalhadores revolucionários em seus lugares de origem. Influenciados por eles, os soldados camponeses começaram a desertar para não morrer em uma guerra que não era sua. Ao mesmo tempo, levavam de volta para suas aldeias as propostas socialistas que conheceram nas trincheiras. Esse trabalho permitiu ganhar grandes parcelas das forças armadas para a revolução, ou, pelo menos, neutralizar sua atuação.

E quanto às forças policiais? No livro “Estratégia socialista e arte militar”, Emilio Albamonte e Matías Maiello citam um relato de Trotsky: “A polícia, diz ele, não tardou a desaparecer completamente do mapa”. Para os trabalhadores em luta, “os policiais eram inimigos cruéis, irreconciliáveis, odiados”. Não havia como pensar em conquistá-los. Falavam, inclusive, em açoitá-los ou matá-los.

Assim, no início da revolução de 1917, dizem nossos autores, enquanto o exército estava dividido, a polícia fora destruída. A intensa militarização das sociedades contemporâneas tornaria muito difícil adotar proposta semelhante em uma nova situação revolucionária. Mas fica a dica.

Continua.

Leia também: Trabalhadores armados no processo revolucionário russo

4 comentários:

  1. Sabe uma coisa que sempre pensei, vamos falar só da revolução de 17. Ela tinha a paz como uma das palavras de ordem (paz, terra e pão) a mobilizar a população. Ninguém quer revolução porque teme a guerra, só mesmo uma revolução socialista para acabar com as guerras, mas ela implica em uma guerra também, mesmo quem em tese possa ser a última. A revolução de 17 se deu em meio a uma guerra, difícil é não ter guerra e propor uma revolução. Essa questão eu gostaria muito de ter um retorno seu, porque sempre me intrigou, e nunca vi nenhuma resposta convincente.

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  2. Sim, pela própria definição clássica de situação revolucionária do Lênin, não há revolução sem crise revolucionária. E não há crise revolucionária sem que as classes dominantes não estejam atravessando uma crise também. E guerras, sejam civis, sejam inter-estados, são manifestações agudas dessas crises pelo alto. Então, revoluções sem guerras ou conflitos equivalentes são muito raras. Talvez, só a de Cuba não envolveu uma guerra declarada. As outras todas ocorreram em meio a guerras. Agora, se não seriam possível revoluções sem guerras, guerras não são condição suficiente para revoluções. É preciso que, dada a situação de crise, haja uma força política do proletariado capaz de aproveitá-la. Por isso, a construção da revolução precisa se manter também em tempos de "paz" e estabilidade. Do contrário, quando aparece a oportunidade, ela é não só perdida, como pode ser aproveitada pela extrema-direita para uma reação esmagadora.

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    1. Realmente Cuba foi uma revolução onde não existia uma guerra, sempre penso nela. Entendo essa preparação que diz, mas não havendo as situações que cita, fica difícil preparar para o momento, falta até motivação. Valeu. Abração.

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    2. Será que falta motivação? Porque motivos não faltam. Principalmente, para os mais explorados. Agora, não dá pra negar que muita coisa mudou desde 1917, que desorganizou e desconcentrou a classe trabalhadora clássica. Por outro lado, nunca houve tantos proletários, ou seja, trabalhadores que precisam vender sua força de trabalho. Além disso, na China surgiu a maior classe operária de todos os tempos. E as contradições só aumentam, agora com crise climática, pandemias etc. A barbárie, infelizmente, ainda é a maior possibilidade, mas não necessariamente...

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