Em seu livro “A terra da mãe de Deus”, Luitgarde Cavalcanti estuda o mundo beato do Juazeiro de Padre Cícero. Para abordar a forte presença da religiosidade católica na região, sua principal referência teórica é Antônio Gramsci. Por exemplo, neste trecho:
Depois de definir o folclore como "um conjunto indigesto de fragmentos de todas as concepções de mundo e da vida sucedidas na história", Gramsci distingue nele uma religião popular "muito diferente da dos intelectuais e da hierarquia eclesiástica, uma moral popular formada por um conjunto de máximas para a conduta prática e de costumes". Esse catolicismo popular, próprio das camadas subalternas, é divergente da Teologia – concepção da hierarquia religiosa dos intelectuais católicos.
Referindo-se às promessas de redenção eterna, Luit mostra como as classes dominadas, diante das injustiças que sofrem, tentam “realizar no ‘agora’ as promessas do bem comum”. Enquanto esperam o "fim do mundo":
...não se quedam num imobilismo transcendental, mas, muito pelo contrário, partem para uma ação de "plantar" o novo mundo, de "construir" a utopia do mundo do espírito santo. Como se tivessem consciência teórica do papel histórico do homem na construção material e espiritual de seu próprio mundo, não esperam a chegada de Deus construtor dessa "existência inefável", mas fazem eles mesmos as suas "cidades santas", as cidades longe do pecado. Nesse movimento de precipitação dos fatos prometidos, o encurtamento do tempo, com a ameaça do julgamento final, obriga os homens a superar a contradição máxima entre dominadores e dominados.
Foi o que fizeram em Canudos, Caldeirão, Contestado e vão continuar a fazer até que já não haja dominadores ou dominados.
Leia também: A religião como ação transformadora sobre o mundo
Bonito. Belas frases e conclusões.,
ResponderExcluirValeu!
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