Em seu livro “A terra da mãe de Deus”, Luitgarde Cavalcanti analisa o mundo beato ligado ao Juazeiro do Padre Cícero. Em sua vivência sob condições sociais e naturais hostis, os beatos se guiavam pelos valores originais do comunitarismo cristão.
A autora cita uma homilia do século V de São João Crisóstomo, segundo Rosa Luxemburgo, "aquele que pregou mais ardentemente aos cristãos para regressarem ao primeiro comunismo dos Apóstolos":
E havia uma grande caridade entre eles, ninguém era pobre entre eles, ninguém considerava como seu o que lhe pertencia, todas as suas riquezas estavam em comum... uma caridade existia entre eles. Esta caridade consistia em que não havia pobres entre eles, de tal modo que os que tinham bens apressavam-se a desprender-se deles. Não dividiam as suas fortunas em duas partes, dando uma e guardando a outra; davam o que tinham. Assim não havia desigualdade entre eles. Todos viviam em grande abundância. Tudo se fazia com o maior respeito. O que davam não passava da mão do doador para a mão do que recebia; as suas dádivas eram sem ostentação; traziam os bens aos pés dos apóstolos que se tornavam os controladores e donos deles que os usavam, daí para o futuro, como bens da comunidade e já não como propriedade de indivíduos.
“A ideologia dominada só existe pela oposição à ideologia dominante da qual se origina, e pela qual estará contaminada”, escreve Luit. É a “descontaminação” das concepções de mundo dos dominados em relação aos valores dominantes que os torna perigosos para os de cima. No caso, para a cúpula católica.
Mais na próxima pílula.
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Bonito
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